A fotografia na França

Qual a relação entre o nascimento da fotografia e a França? Quem são os principais fotógrafos franceses que fizeram história? E hoje em dia? Partindo dessas perguntas, reunimos aqui fatos e nomes que ajudam a contar um pouco a trajetória do ato de registrar momentos por meio da câmera fotográfica. Voilà ! 

Um pouco de história 

Embora o invento da fotografia não seja atribuído apenas a uma pessoa devido aos experimentos de alquimistas e químicos realizados ao longo dos séculos, a primeira fotografia reconhecida é datada de 1826 e atribuída ao francês Joseph Nicéphore Niépce (1765-1833). O processo era denominado de heliografia e levava oito horas para gravar uma imagem. 

Dando continuidade aos estudos de Niépce, o também inventor francês Louis Jacques Mandé Daguerre (1787-1851) obteve o mesmo feito de capturar uma imagem em uma chapa metálica, porém, em menor tempo. Assim, criou em 1837 o daguerreótipo, que se tornou a primeira patente de um aparelho fotográfico vendido, em 1939, ao Governo da França. 

Além de Niépce e Daguerre, Hippolyte Bayard (1801-1887) figura entre os precursores da fotografia no final dos anos 1930, no entanto, seu nome não foi reconhecido naquele período porque demorou a anunciar seus experimentos. Ainda assim, grande parte da obra de Bayard encontra-se preservada e arquivada na Société Française de Photographie. 

No Brasil, paralelo aos inventos na terra de Molière, Antoine Hercule Romuald Florence (1804-1879)  viajante francês presente na expedição de Langsdorff nas Américas  descobriu um processo de gravação através da luz, que batizou de Photografie, em 1832. Esse método só foi comprovado cientificamente graças à ampla pesquisa feita pelo jornalista e professor brasileiro Boris Kossoy, entre 1972 e 1976. 

Em relação ao espaço da mulher no mercado fotográfico, há poucas informações disponíveis que indiquem precisão. O único indício mais recorrente se refere à parisiense Antonieta DeCorrevont, considerada a primeira mulher a quebrar os paradigmas da época e abrir um estúdio de retrato em Munique, na Alemanha, em 1843. Porém, não há detalhes sobre a sua história e atuação no meio. 

Outra curiosidade é que André Adolphe-Eugène Disdéri (1819-1889) criou na França, em 1864, uma câmera fotográfica com quatro lentes para obter oito retratos em apenas uma chapa de vidro. Ele batizou seu invento de carte de visite e a troca de dessas fotografias tornou-se um hábito da segunda metade do século XIX, dando origem a outro modismo: os álbuns de fotografia. 

O surgimento da fotografia colorida remonta à década de 1860, tendo sido desenvolvida com a contribuição dos irmãos Auguste (1862-1954) e Louis Lumière (1864-1948), mais conhecidos como pioneiros do cinema. Outro francês que atuou nessa empreitada foi Louis Arthur Ducos du Hauron (1837-1920), responsável por criar uma forma de imprimir três negativos com filtros coloridos em vermelho e azul. 

 

Grandes nomes da fotografia: do século 20 até a atualidade 

Conheça alguns dos principais fotógrafos franceses da história recente: 

Henri Cartier-Bresson (1908-2004) 

Considerado um dos maiores fotojornalistas do mundo, Bresson nasceu na região francesa de Chanteloup-en-Brie, em 1908, em uma família de industriais. Ganhou sua primeira câmera fotográfica ainda na infância, mas só descobriu a paixão pela fotografia em uma viagem que fez à África, aos 22 anos. Com a sua câmera Leica, passou a observar e registrar o cotidiano, eternizando o conceito do “instante decisivo”, o momento exato na qual uma foto é tirada. Como ele dizia: o momento em que “se alinha a cabeça, o olho e o coração” para obter a fotografia. 

 

Eugène Atget (1857-1927) 

Ainda que seu trabalho não tenha sido reconhecido em vida, Atget é visto hoje como um dos precursores da fotografia moderna em Paris. A partir de 1900, voltou seu olhar para as ruas da velha Paris, fazendo inúmeros postais do cotidiano. Por 25 anos levou uma rotina de carregar pela cidade sua enorme e pesada câmera, um tripé e uma caixa de placas fotográficas. A visão documental de Atget provou ser inovadora e altamente influente, primeiro nos surrealistas, na década de 1920; e depois em duas gerações de fotógrafos americanos, de Walker Evans (1903-1975) a Lee Friedlander (1943). 

 

Robert Doisneau (1912-1994) 

Influenciado pela obra Bresson e Atget, Doisneau era um apaixonado por fotografias de rua. Embora a imagem mais conhecida de sua autoria seja Le Baiser de l'Hôtel de Ville, de 1950 – tendo sido posada para o fotógrafo –, seu portfólio era pautado pela espontaneidade dos momentos singelos que capturava. Publicou mais de 20 livros em que mostra sua ótica sobre a vida e ganhou vários prêmios no decorrer de sua carreira. Em 1992, a atriz e diretora francesa Sabine Azéma (1949) lançou um documentário chamado Bonjour, Monsieur Doisneau, retratando o legado do fotógrafo.

Yann Arthus-Bertrand (1946)

Nascido em Paris, Arthus-Bertrand figura entre os maiores fotógrafos franceses da atualidade e integra a Académie des Beaux-Arts de l'Institut de France. Inicialmente, sua especialidade era a fotografia de animais, mas logo enveredou-se pela fotografia aérea, tornando-se pioneiro nesse formato de registro. Atua como fotojornalista e ativista ambiental, o que impulsionou a realização do documentário Humano — Uma Viagem pela Vida, de 2015, no qual retrata a diversidade humana pelo mundo afora.

Marc Riboud (1923-2016)  

Autor de La Fille à la fleur – a icônica fotografia feita em 1967, durante uma manifestação contra a Guerra do Vietnã –, Riboud é um dos grandes nomes do fotojornalismo. Engenheiro de formação, seu apreço pela arte de registrar momentos começou aos 14 anos, quando ganhou sua primeira câmera, uma Kodak. Assim como Bresson, trabalhou para a agência Magnum e rodou por diversos lugares do mundo. Foi um dos poucos fotógrafos que recebeu permissão para realizar reportagens no Sul e Norte do Vietnã entre 1968 e 1969.

Leila Alaoui (1982-2016)

Uma das fotógrafas mais promissoras de sua geração, a franco-marroquina Leila Alaoui dedicou seu trabalho a causas sociais ligadas à migração e identidade cultural. A intenção era questionar e refletir a sociedade sobre as diferentes realidades e descolamentos que geravam injustiças e tragédias. Sua carreira acabou sendo encurtada em 2016, quando foi uma das vítimas dos atentados terroristas na África. À época, ela participava de uma missão promovida pela ONU Mulheres e Anistia Internacional, voltada aos direitos das mulheres em Burkina Faso.

 

Bettina Rheims (1952)

Sua trajetória na fotografia ganhou projeção a partir da década de 1980, quando fez uma série dramática de retratos de artistas de strip-tease e acrobatas, ganhando uma exposição individual no Centre Pompidou, com apenas 29 anos. O corpo feminino, seja nu ou vestido, sempre foi um tema central do seu trabalho. Além de expor em diversos museus e galerias, ela também trabalhou em campanhas publicitárias para grandes marcas, incluindo Chanel e Lancôme. Porém, seu trabalho com moda não foi bem visto no mundo da arte, passando a ser considerada uma fotógrafa comercial.

JR (1983)

Jean Réné, mais conhecido pelo pseudônimo JR, é um artista urbano francês, que obteve destaque, principalmente, pelas imagens fotográficas em grandes proporções que exibe em locais públicos. Ao lado de Agnès Varda (1928-2019), cineasta belga radicada na França, lançou o filme Visages, Villages, vencedor do prêmio de melhor documentário exibido no Festival de Cannes, em 2017. Nele, acompanhamos a viagem de ambos a bordo do furgão-estúdio de JR, fazendo paradas em vilarejos da França e convidando os moradores a colaborarem no processo de realizar e imprimir imagens ampliadas para serem coladas em espaços ao ar livre.

 

E você, curte fotografia? Qual a imagem da França que você mais gosta? Compartilhe conosco!

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