2020: Ano da Bande Dessinée (História em quadrinhos) na França

O ano de 2020 foi declarado pelo Ministério da Cultura francês como o ano das histórias em quadrinhos, ou les bandes dessinées en français, ou ainda BD para os íntimos. Esse ano dedicado à nona arte está sendo rico em descobertas e vem destacando jovens artistas do gênero, apesar dos desdobramentos causados pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19).

 

Em março deste ano (antes do início do confinamento obrigatório na França), ocorreu a exposição chamada Plan A, na cidade de Angoulême (conhecida mundialmente pelo Festival da Bande Dessinée).  O tema dessa exposição foi La bande dessinée et l’art contemporain sont-ils conciliables ?, ou em tradução livre para o português A História em quadrinhos e a arte contemporânea são conciliáveis?.

 Confira mais sobre o festival em: https://www.bdangouleme.com/

A BD se difundiu pelo mundo a partir dos anos 1840, com um “boom” de publicações de diferentes artistas e escritores. Um exemplo é o suíço Rodolphe Töpffer, considerado por muitos como o “criador” da bande dessinée e seu primeiro teórico. No entanto, essa denominação é um pouco controversa, visto que tal forma de arte já existia há muito tempo (os primeiros registros de BD – arte narrativa, gráfica e sequencial – datam da pré-história, quando os seres humanos começaram a contar história por meio da arte rupestre). As publicações dos álbuns de Töpffer foram feitas no auge da época romântica. Essas histórias impressas lançaram o fundamento para uma nova forma de literatura dedicada à ficção satírica, estabelecendo a cooperação entre texto e imagem para, assim, formar a obra literária.

 BD nos países francófonos 

Dentre os países francófonos, pode-se dizer que a Bélgica tem destaque na arte das BDs. O precursor no país foi Hergé e seu herói Tintin na década de 1920. Tal arte também foi estimulada pela criação do jornal francês Pilote no final da década de 1950 e, depois, por várias revistas como L'Écho Savanas, Métal hurlant e Fluide glacial, que permitiram que um grande número de autores franceses e belgas desenvolvessem suas criações.

 

O Centro Belga de BD, em Bruxelas, está localizado em um edifício Art Nouveau, projetado por Victor Horta. Dos quadrinhos históricos (Tintin, Spirou e Lucky Luke, por exemplo) às novas criações, o espaço abriga tudo o que for relacionado aos quadrinhos no país europeu. O centro também conta com a maior Bedethèque (biblioteca de quadrinhos) do mundo, além de inúmeras exposições temporárias.

 Para além de René Goscinny et Albert Uderzo, autores dos famosos Astérix e Obélix, o movimento de BD atual apresenta maior crescimento na França, com o surgimento de muitas jovens artistas como, por exemplo, Emma Clit (@emma_clit no Instagram), autora de obras como Des Princes pas si charmants, Un Autre Regard sur le Climat e La charge émotionnelle et autres trucs invisibles (Un Autre Regard tome 3).

Ou ainda a artista Catherine Meurisse, francesa que publicou diversos livros de histórias em quadrinho como Mes hommes de lettres, Savoir-vivre ou mourir e Le Pont des arts". Outra artista de sucesso é parisiense Pénélope Bagieu que já publicou obras como Ma vie est tout à fait fascinante e Joséphine. Ela dirigiu também um curta-metragem chamado Fini de rire (https://vimeo.com/100196438), que foi indicado a diversas premiações. A artista esteve em Porto Alegre em 2016, onde realizou um atelier de desenho na Aliança Francesa Porto Alegre para alunos e público em geral.

 Pode-se dizer que o grande salto da sua carreira foi com a publicação da série de BDs Culottées, entre 2016 e 2017, que em março de 2020 recebeu uma adaptação para vídeo, se tornando uma série no canal France 5. Culottées é composta de quinze biografias curtas, cada uma focada em uma garota ou uma mulher que, durante sua vida, desafiou proibições ou normas sociais relacionadas ao sexismo ou patriarcado. Em 2019, Pénélope Bagieu recebeu o Prêmio Eisner por essa obra.

 

#coronamaison

Neste período de confinamento, Pénélope Bagieu realizou uma série exclusiva denominada #coronamaison, onde descreve o confinamento durante a quarentena. A proposta é que os internautas desenhem a casa ideal para o confinamento, a partir de um template disponibilizado pela artista.

 Confira aqui: https://www.nouvelobs.com/confinement/20200322.OBS26423/la-coronamaison-de-penelope-bagieu-prend-de-l-ampleur.html

 Voilá, vamos deixar abaixo alguns links para vocês conhecerem um pouco melhor essa artista:

https://www.madmoizelle.com/podcasts/penelope-bagieu-interview-sois-gentillel

https://www.youtube.com/watch?v=QqLY16jAx44&feature=emb_title 

https://www.facebook.com/watch/?ref=external&v=2772904699452849