Um pouco sobre a cultura do vinho

Cine-debate "Wine Calling: Le vin se lève" com a sommelier Michelle Landgraf

Nesta semana tivemos a honra de compartilhar com vocês um momento muito especial, o Cine-debate sobre o filme "Wine Calling: Le vin se lève", com a convidada especial, sommelier, Michelle Landgraf. Neste contexto, resolvemos abordar alguns conceitos discutidos nesta ocasião. Sabemos que a cultura francesa de viticultura é muito forte, por conta disso, quase todo o mundo possui certa influência francesa nesta área. Seja nas práticas adotadas ou no vocabulário utilizado. Ou seja, nada melhor, para um bom amante de vinhos, conhecer um pouco da cultura e da língua francesa, para saborear ainda mais esta bebida deliciosa. 

Iniciamos nosso debate falando sobre algo muito importante para a produção de vinhos, o Terroir, esta palavra francesa sem tradução precisa, muitas vezes, na língua portuguesa, tratamos como “microclima”, mas sabemos que a palavra “terroir” diz muito mais do que apenas isto. A Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV) nos apresenta uma definição oficial sobre seu significado: 

Terroir: conceito que remete a um espaço no qual está se desenvolvendo um conhecimento coletivo das interações entre o ambiente físico e biológico e as práticas enológicas aplicadas, proporcionando características distintas aos produtos originários deste espaço. 

No dicionário francês encontramos a definição “Ensemble des terres d'une même région fournissant un produit agricole caractéristique.” Que seria, em tradução livre, “Conjunto de terras de uma mesma região fornecendo um produto agrícola característico.” 

Como nos explicou a sommelier Michelle, a importância do terroir também está relacionada à coletividade, pois o cuidado que um produtor possui e cultiva com a sua terra irá interferir na qualidade da terra do seu vizinho. Por isso, inclusive, o filme debatido trata muito sobre o espírito de coletividade sendo algo muito importante na rotina dos viticultores.  

Em seguida, um outro termo muito importante consta neste debate, o que em português chamamos de “orgânico”, e em francês é dito como “bio” (abreviação de “biologique “), este ramo de vinhos está crescendo muito, pois cada vez mais os consumidores procuram produtos mais naturais, com menos pesticidas e orgânicos. É importante ressaltar que a palavra “bio”, em francês, não é utilizada apenas para se referir a vinhos, posso dizer, por exemplo, que vou na feira comprar “des fruits et des légumes bios” (frutas e legumes orgânicos).  

O “próximo passo”, após o início de um cultivo orgânico, seria a produção de vinhos biodinâmicos (biodynamiques, em francês). Quem postulou esta teoria foi o suíço Rudolf Steiner. Os vinhos biodinâmicos, além de serem feitos a partir de uvas provenientes do cultivo orgânico, seguem a filosofia antroposófica, proposta em 1924 por Rudolf Steiner. De acordo com Steiner, uma fazenda agrícola deve buscar ser um ambiente totalmente auto sustentável, em harmonia com o ambiente que ocupa, com a mínima interferência dos seres humanos, para que a terra possa recuperar sua energia vital e produzir frutos que expressem as características próprias do local. Os métodos desta filosofia foram publicados no livro “The Spiritual Foundations of Biodynamic Methods”.  

 O objetivo deste cultivo é de não utilizar agrotóxicos ou fertilizantes, entretanto, o produtor pode contar com compostos biodinâmicos, que são como fórmulas naturais (à base de ervas medicinais e minerais), até o ponto de o ecossistema recuperar o equilíbrio e necessite cada vez menos da ação dos seres humanos para seu desenvolvimento. Na produção dos vinhos também são seguidos os mesmos preceitos, com a menor interferência possível na vinificação, sem utilizar leveduras que não sejam naturais (da própria uva) e com o mínimo (ou, idealmente, nada) de enxofre para sua conservação. 

A sommelier também nos explicou sobre a ação do enxofre nos vinhos, sendo as suas altas concentrações um dos motivos principais da “ressaca”, da dor de cabeça, no dia seguinte, após ter bebido um vinho que possui alta concentração deste elemento químico adicionado à sua composição. Ou seja, quanto mais natural, com menos adição de enxofre o vinho tiver, menos provável será a dor de cabeça do dia seguinte. 

 
Para saber mais sobre a nossa convidada deste evento acesse sua página no Instagram @milandgraf