A influência da cultura francesa no Rio Grande do Sul

Você sabia que algumas cidades gaúchas têm traços culturais da França? Pelotas é, sem dúvida, um dos principais exemplos. A cidade, inclusive, abrigou a única colônia francesa formada no Rio Grande do Sul: a Colônia Santo Antônio. Localizada na zona rural do município pelotense, no Distrito do Quilombo, a pequena comunidade de camponeses franceses se instalou no local por volta de 1880. Uma evidência que indica a presença desses descendentes é o postal francês expedido em Pelotas, datado de 14 de novembro de 1903, no qual aparecem agricultores.

Paralelamente ao cultivo agrícola, a expansão do espaço urbano de Pelotas voltou-se ao desenvolvimento do patrimônio cultural. Muitos dos prédios foram construídos a partir da tradição europeia. Basta reparar nos casarões e edifícios históricos com forte influência do estilo neoclássico presentes na região central da cidade. Entre os arquitetos responsáveis estão os franceses Dominique Pineau e Dominique Villard, vencedores da concorrência pública para a obra da Escola Eliseu Maciel, em 1881, que hoje compõe o campus da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL).

Outra curiosidade é que, uma década antes, em 1871, a atual Praça Coronel Pedro Osório recebeu o primeiro chafariz de Pelotas, chamado de Fontes das Nereidas, que foi trazido da França e montado pelo escultor Durenne Sonnevoire. Outros dois foram instalados, mas o reservatório situado na antiga Praça da Caridade, certamente, figura como um dos exemplares da arquitetura industrializada importada da terra de Moliére. Todas as peças são em ferro e foram estruturadas in loco no ano de 1875.

Em Porto Alegre, o jovem arquiteto francês Maurice Gras assina a autoria do projeto do Palácio Piratini, situado na Praça Marechal Deodoro, no Centro Histórico, e atual sede do Poder Executivo do Governo do Estado. Recomendado pelo então ministro da França, Charles Wiener, ele teve sua proposta aprovada pelo governante Carlos Barbosa, dando início à edificação em 1909. Todavia, a ocupação do prédio ocorreu somente em 1921, durante a administração de Borges de Medeiros.

Imponente, o Palácio do Piratini reúne características neoclássicas como o equilíbrio, a simetria e a sobriedade das formas. No saguão principal, uma escadaria de mármore francês nos conduz ao gabinete do governador e aos salões Negrinho do Pastoreio e Alberto Pasqualini. Além dos lustres, que são réplicas do Palácio de Versalhes – um deles chega a pesar uma tonelada –, o prédio conta com esculturas de Paul Landowski, escultor franco-polonês que projetou a estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro.

Assim como o Palácio do Piratini, outros edifícios erguidos nessa época seguiram a arquitetura pompier francesa, com seu decorativismo pomposo. Porém, um ponto que chama atenção na história de Porto Alegre é o templo positivista que fica na Avenida João Pessoa, quase esquina com a Venâncio Aires, ao lado do Parque Farroupilha. Com pilastras que remetem a colunas, o prédio de linhas retas foi inaugurado em 1928, período em que Júlio de Castilhos (1860 – 1903) atuava como chefe político do RS e era um grande ativista da doutrina positivista francesa no Estado.

Trata-se do maior símbolo local dos ideais defendidos pelo pensador francês Augusto Comte (1798 – 1857), que pregava o rigorismo científico do Positivismo. A planta arquitetônica segue as deliberações postuladas por Comte. A escada que leva ao templo tem degraus com inscrições que representam a evolução da humanidade, como diferentes religiões e organização da sociedade.

Tombado pelo patrimônio estadual em 2010, o prédio já foi visitado pelo menos três vezes pelo francês Michel Maffesoli, um dos principais sociólogos da atualidade. E não é à toa que o lugar possui fama internacional: ele está entre os cinco templos positivistas que existem no mundo, sendo que os outros quatro estão localizados no Rio de Janeiro, em Curitiba, em São Paulo e na França.

Esses são alguns acontecimentos históricos que reverberam até os dias de hoje. Você conhece outros? Compartilhe conosco!

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